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A charanga da LILI vol.15 nº.1 (2024)
ISSN 2764-166X DOI: 10.6084/m9.figshare.19067537

As transformações na educação escolar indígena: ainda em transformação!

 

A educação escolar já nasceu com tonalidade de exclusão das comunidades indígenas?

Desde a década de 1950 a educação escolar de modo geral era voltada para a urbanidade, para a formação técnica, e ou para preparar para a universidades.


Na década de 1960, período da colonização indígena, mais intensa , a ideia de escolas chega nas aldeias, os seus objetivos eram a dominação e a inserção dos indígenas nos modos definidos pelos colonizadores com apoio das igrejas jesuítas. É também com as catequizações, que desde a década de 70 até hoje se recriaram modos de levar educação escolar aos povos indígenas com aval dos religiosos e dos governos. E estes governos que empunham o modelo de educação com base na apropriação da educação para aqueles que tivessem assimilado a cultura do desenvolvimento a todo custo

A pacificação chegava aos povos por meio de modelos que não levavam em conta suas culturas, suas diversidades e seus modos de viver.

Alguns movimentos sociais sensibilizados com os povos indígenas, que iniciaram nos fins dos anos 1970, abriram diálogos para construir um modo de ter uma educação que levasse em conta as necessidades de cada povo...

E assim, culminou com a organização de lideranças indígenas de diversos povos e que construíram os capítulos da Constituição Federal de 1988, dando um primeiro caminho para definir a participação dos povos indígenas nas escolhas das diversas temáticas que envolvessem povos indígenas; dentre elas a própria educação indígena.

Essa temática educacional era tratada como 'educação para os índios' e 'escola para os índios' e atualmente é tratada como Educação Escolar Indígena; com a objetivo de atender a diversidade cultural dos povos indígenas. com essa organização acontecendo nos territórios para dialogar com os poderes governamentais, também crescia a exigência dos indígenas para a transformação do modelo de educação que os não-indígenas impunham aos povos.

Uma educação pensada fora do território pautada nos padrões europeus uma educação ainda com nítido propósito de civilizar e assimilar , ainda uma educação colonizadora.

Desde a década de 1980, as escolas chegam às aldeias e precisam ser adaptadas às necessidades da comunidade, aos tempos, aos modos de viver, e aos diversos modos de conhecer o mundo.

Em contraponto a fase mais longa da história da educação escolar indígena, onde o estado brasileiro levou a ideia de aculturar e integrar os indígenas; hoje temos antropólogas indígenas que afirmam que: " Quando a educação escolar chega aos territórios indígenas, ela vem com uma finalidade. A educação escolar vem para as terras indígenas para construir uma outra identidade. E o que os povos indígenas fizeram? eles acolheram esse lugar da escola e o tornaram seu".

Quando KAIGANG (2022) esclarece essa transformação, está falando como uma mulher indígena, e como antropóloga liderança do povo kaingang. E ela "desvela' o que ocorreu no seu povo, que acolheu território escolar e o ressignificou. O povo levou seus saberes, suas necessidades, seus anseios para o" território" escolar retomado e transformaram a "escola para os índios" em Escola Indígena. Hoje a educação escolar indígena é uma retomada, e é garantida por lei como define a Constituição federal de 1988. Ela ainda não é o modelo ideal como pensam algumas lideranças, mas são espaços de transformação e luta. Muitos ainda lutam para ter escolas indígenas que valorizam suas culturas.

Ela, Educação escolar indígena, ainda não é o modelo ideal como ação inclusiva, como uma ação integrada. Alguns ainda seguem tratando como uma parte da pasta da Educação Brasileira; porém já é uma conquista para os povos indígenas ter as escolas indígenas, e mais ainda tendo formação de professores indígenas, com planejamento escolar feito com seu povo.

Quem sabe essa "Conquista" caminhe para uma nova fase da educação escolar indigena?, quem sabe essa nova fase seja "ecoeducação" . A Fase do reconhecimento dos mestres de saberes ancestrais, estes como os verdadeiros professores de vida, professores e fazedores de cultura. É admitida a educação da natureza como a primeira origem da educação para o bem viver.

FONTE: (1) MEDEIROS, Juliana S. Democracia da educação: Liberdade utopias, história da Educação escolar indígena do Brasil, alguns apontamentos;. [s.n.t], 2018. (2) KAIGANG, Josiléia Daniza. Oboré: quando a terra fala. Santa Catarina: Editora Arapoty, 2022, p.68.

 

Martha de Lima
Pesquisadora, Escritora, Indígena, residente em Santa Catarina.