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A charanga da LILI . vol.16 nº.1 (2024)
ISSN 2764-166X

A história do Brasil sem os povos indígenas: anos de revelação

 

Existe uma História do Brasil em, artes, em música em fatos, e existe uma outra em fatos e seus “contatos”. Existe uma outra face desta mesma história que não foi contada, que foi silenciada e que foi apagada.


Uma grande parte dos pesquisadores e historiadores contam somente a parte do que foi descrito, registrado pelos colonizadores entre os séculos XVI e XX.


Tudo que sabemos está direcionado por essa visão restrita estruturada na percepção de mundo e de civilização desde que deixaram registro oficiais porém desvirtuados, em detrimento à realidade dos fatos.Datou-se e registrou-se o que era de interesse dos invasores. E assim, foi criada a história dos povos invisíveis, dos sem história, dos sem alma, dos sem língua, dos sem escrita, sem símbolos ou signos.


Os cegos que chegaram, sem ver os que já habitavam, foram forjados na coroa, na ganância, na espoliação. mas há uma Verdadeira realidade dos fatos vividos, vivenciados nos contatos, que durante muito tempo dormiu no chão das Aldeias, junto as Covas dos corpos, dos ossos que tombaram na luta.


E resistiu enterrada até os dias que as águas, os ventos e as forças da mãe natureza os desenterrou.

O Rio que estava sendo morto com seus filhos e netos; lutem!

As árvores que eram contrabandeadas mortas feitas em toras; levadas ao longe gritavam com suas mulheres que olhassem seus frutos, suas raízes.


Mostre nossas mortes; mostre nossos corpos tombados, mostre seus corpos pintados com nosso carvão, com nossas resinas, com nossos líquidos.


E o grito da floresta foi ressoando e aos poucos, nas aldeias, nas escolas, nas universidades, nos movimentos, nas mídias, até chegar a outros povos e alcançar outros países.


Emerge desse movimento das Nações Indígenas no Brasil o papel importante desses Guardiões da biodiversidade, Guardiões da vida - eles fazem o sopro se tornar matéria.


A existência das mais de 200 etnias, estrategicamente situadas nos biomas espalhados pelo território brasileiro, revela que o dito 'progresso e crescimento' do país, não pretendia incluir em seus planos, os verdadeiros brasileiros povos originários, os que já aqui habitavam; Pindorama. mesmo antes de se denominar Brasil.


O genocídio dos muitos povos, o ecocídio, o esbulho feito pelo colonizador com seu olhar de mercadoria para os bens comuns que mãe terra nos oferece, agora estão desvelados na história que esta sendo contada atualmente ainda em poucas rodas. portanto sabemos agora quem sao os seus defensores, sabemos agora quem são os Defensores da natureza, quem defende Gaia.


Agora sabemos também quem defende o genocídio e o ecocídio antes à boca pequena, depois do modo da caneta ou, no modo legislado e, às vistas.


As forças das lideranças que tombaram e que atuam na condição de “Encantados“ que orientam e guiam as associações das Nações Indígenas, as alianças dos povos, as alianças pela vida e os que lutam pela floresta em pé. As lideranças que não desistiram da luta e que não desistiram de falar, as que não aceitaram o silenciamento e o apagar de suas vozes, e o destruir das suas culturas. Seus filhos e netos, suas filhas e netas, agora tomam para si a guiança das lutas e fazem a retomada da história.


Avançam na regeneração da história deste país, com ancestralidade, com sopros e cantos, com Maracá, com seus grafismos, com seus corpos e em sua arte.


Agora também, o fazem com pesquisas, publicações, que se originam no “Chão das Aldeias” nos territórios e chegam ao “Chão” das universidades.


Os apagados da história, os invisíveis, estão em retomada pelo seu direito de existir, pelo seu direito ao seu lugar no país; seu lugar originário.


E estes que estão nas mídias, que estão ocupando locais de legislar, estão nos locais onde nascem as leis; são os guardiões de vidas e das histórias dos que tombaram nas lutas ancestrais, falam por Si por eles e por nós. E ouvem também o brado dos Encantados: diga aos povos que avancem!

Gritem aos povos indígenas que avancem!

FONTE: LAVINA, Rodrigo. A história de Santa Catarina: estudos contemporâneos. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1999, p.73.

Martha de Lima
Pesquisadora, Indígena, residente em Santa Catarina.