O giz da educação vol.20 nº. 1 (2024)
ISSN 2764-0477 DOI: 10.6084/m9.figshare.19064798
Bora pegar a caneca de chá e prosear um pouquinho…
A conversa desse mês é sobre um assunto que anda em pauta por aí, a inclusão. Antes de escrever, procuro sempre estudar o tema, lembrar das minhas andanças nas escolas, das conversas que tive com os professores pelo Brasil.
Desta vez não foi diferente, mas lembrei de cenários bem parecidos. Boa vontade de escolas e professores, muitos problemas, estudantes clamando por ajuda. No papel, a educação inclusiva é para todos. Na prática está longe disso!
O trabalho árduo, dentro e fora das escolas, para atender as demandas (cada vez maiores) se depara, ainda, com laudos realizados de forma precipitada ou com demora de diagnóstico pelas redes públicas; falta de pessoas capacitadas para atendimentos especializados, quantidade de sala de recursos insuficientes, e por aí vai.
Ao mesmo tempo, temos excelentes professores, que muito antes do diagnóstico, já se preocupa em adaptar as estratégias, leva material diversificado, planeja algo diferenciado, que acaba auxiliando, tanto os estudantes de inclusão como aqueles que necessitam de um outro estímulo.
O dia a dia na escola não é um filme da Disney com final feliz, mas é muito possível, quando se tem boa vontade, mesmo com poucos recursos.
Segundo o Censo Escolar de 2023, o número de alunos matriculados na educação especial atingiu a marca de mais 1.770.000, representando 3,7% do total das matrículas. Sendo que desse total, mais de 77% são autistas e deficientes intelectuais, o que impacta, e muito, as estratégias e as adaptações possíveis em sala de aula.
O número significativo do Censo Escolar nos mostra que a situação avança a passos largos e, que é necessário, um forte movimento de entendimento e reflexão, por parte de quem está na escola, do que é necessário fazer, pois é urgente. A lei já prevê uma escola para todos, mas ainda não temos um processo avaliativo que olha para esses estudantes, não temos sala de aula com quantidade de estudantes adequada para um trabalho de real inclusão e, muito menos, professores preparados para atender todas as demandas que recebem nas escolas.
Falta formação adequada para esse professor, falta formação para os coordenadores pedagógicos ou supervisores acompanharem, de forma efetiva, o trabalho de sala de aula, mas não falta boa vontade, de muitos, que ainda tiram do bolso, muitas vezes, o dinheiro para fazer cursos sobre inclusão fora do horário de trabalho ou
comprar material de papelaria para adaptar atividades.
Não tem dinheiro que pague ver seu aluno, que não falava, se comunicar pela primeira vez. Aquele que não lia nada no 6°ano, ler um parágrafo todo; o que não interagia com ninguém, querer participar de um grupo. É esse o maior pagamento do professor! Ou deveria ser!
A maior inclusão na escola é o ser humano SER humano. Interagir, se socializar, participar, se comunicar, aprender… São esses conteúdos humanos que nos tornam pessoas melhores, capazes de pensar no outro, olhar para o outro com indignação quando algum direito não é respeitado.
Trabalho árduo, mas compensador! Talvez, o maior desafio de todo esse processo seja HUMANIZAR a escola. Trazer
de volta os conteúdos atitudinais que eram previstos nos PCNs e que hoje, na BNCC, estão mencionados quando trabalhamos os conteúdos socioemocionais.
Que não percamos de vista o brilho nos olhos que tínhamos quando iniciamos essa longa jornada!
- Fabiana Affonso Sarlo -
Mãe do Felipe e do João, Pedagoga e Neuropsicopedagoga, apaixonada por educação, e claro, por crianças. Especialista em educação infantil e educação pública. Formadora de professores e gestores, adora compartilhar saberes por esse mundão afora.