Curtinhas vol.10 nº.1 (2022)
ISSN 2764-0280
No magnifico altar da Catedral de Santa Sofia, em Kiev, na Ucrânia, está Maria, de braços abertos. Ela está em constante contemplação. Ela está em prece. Ela reza pela paz entre os homens!
Em meio aos escombros de uma cidade em ruínas e o ensurdecedor som das artilharias que pipocam cada vez mais próximo daquela considerada um patrimônio mundial, ao cobrir jornalisticamente a guerra entre Rússia e Ucrânia, vi uma senhora, já idosa, ajoelhar-se diante do altar. O olhar marejado de lágrimas falava por si só. Aproximei-me com o intuito de juntar-me ao seu lamento e quem sabe, pudesse ali reforçar o seu pedido. Se não me falhe a memória, há uma passagem bíblica que quando dois ou mais estiverem reunidos em nome de Deus-Pai, ele estará entre nós.
Logo eu, que por entre as farpas das cercas por onde passei, fui perdendo a minha fé... Fiquei ali por alguns instantes! A fé não tem pressa, ela sempre abraça você, aprendi ali. Em respeito, ajoelhei-me também. E de tanto balbuciar retalhos das preces que um dia fiz, fui envolvido por uma sensação de conforto, de aconchego, inconfundível. Pensei comigo, fui teletransportado para um outro lugar, de cores outras, um lugar de paz.
“Senhor, escutai as nossas preces,
Dá-nos a sabedoria para compartilhar o amor, na sua essência, sem rótulos e fórmulas milagrosas.
Porque nem só do pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da sua boca.
Conceda-nos a oportunidade de que ao assumirmos os nossos erros, não sejamos penalizados pela dor da perda do espírito no sombrio deserto das sombras. Que nossa luta pela paz, não seja em vão!”
Quando terminei de juntar meus caquinhos de palavras, nessa prece, muito pessoal e em frangalhos dei por conta de que havia se passado mais de uma hora, então, admirado, abri meus olhos. Muitas pessoas, entre elas alguns soldados, aproveitaram a trégua do cessar fogo para fazerem o mesmo que eu e aquela senhora, idosa, fazíamos. Estávamos em prece!
E Maria ali. Incansável. De braços abertos! Acolhia a todos no calor do seu afeto! De fato, não há distinção entre o bem e o mal. Nós é que habilmente inventamos saídas para justificar os nossos erros e acertos. Mas, à propósito, existe mesmo certo ou errado?
Patiluc