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Curtinhas vol.22 nº.1 (2024)
ISSN 2764-0280

Suira, o pajé que desafiou a Pandemia da COVID-19 

Texto baseado em fatos reais

 

No ano de 2019, houve uma grave pandemia da COVID, que matou milhares de pessoas no mundo todo. Uma doença contagiosa, que se pegava por um simples espirro e por contato físico.


Foi decretado pelo Ministério da Saúde o uso de máscaras e isolamento das pessoas. Muitas empresas fecharam as portas, igrejas e lugares de encontro coletivos foram impedidos de continuarem seu funcionamento até que a vacina chegasse para controlar a doença.


As vivências e rituais também foram impedidos de acontecer e muitos indígenas param de fazer seus ritos sagrados; o pajé Suira foi o único que não aceitou o isolamento, porque acreditava na força da espiritualidade junto à medicina sagrada da floresta.


Orientado pelo grande espírito, reuniu os Kariri-Xocó e deu a eles o chá sagrado, que fortaleceria a imunidade criando defesas contra a doença.


O Ministério Público acessou o pajé para que ele não continuasse com o ritual que acontece uma vez por ano, no qual se passam 15 dias na mata em forte conexão com a espiritualidade.


O pajé, como um homem de fé, negou-se a suspender o ritual e precisou assinar um documento pelo qual se comprometia a assumir total responsabilidade caso algum indígena pegasse a COVID, mas graças à espiritualidade e à medicina da floresta nenhum Kariri-Xocó foi infectado pelo contrário, ficaram imunes até a chegada demorada da vacina.


Se não fosse a medicina da floresta abençoada pelo o grande espírito, nenhum Kariri-Xocó viveria pra contar a história. Diante disso, o pajé se tornou uma pessoa ainda mais respeitada e procurada para benzimentos e curas de problemas através dos seus conhecimentos com as plantas medicinais naturais, não apenas pelos os indígenas, mas também pelos não indígenas.


A medicina da ciência é importante desde que se associe e respeite a medicina dos povos originários. A atitude do pajé não foi um desafio à periculosidade da doença, mas sim uma demonstração de fé e garantia nos conhecimentos e saberes tradicionais que já existiam antes de qualquer coisa.


Enquanto uma árvore estiver em pé, a força espiritual estará presente.


Viva a ciência e viva os saberes tradicionais e o conhecimento de quem já nasceu com o dom da cura, dos que foram escolhidos pelo nosso Criador a serem os primeiros habitantes dessa terra sagrada.

Dzudé dé raddá.

- Idiane Crudzá -
Mulher indígena do povo Kariri-Xocó, originário de Alagoas.
Ela é a guardiã da tradição do povo Kariri-Xocó.