Curtinhas vol.25 nº.1 (2024)
ISSN 2764-0280
Todos os dias o pássaro voava longe, muito alto, mas sempre voltava para o chão para ouvir a sua mãe Terra falar.
Ela falava através de sons e através de vibrações, ele sentia a vibração da mãe Terra e entendia toda mensagem que ela lhe passava. Um dia o pássaro resolveu voar ainda mais longe e ainda mais alto e demorou dias e noites para chegar à Terra...
Então certo dia com muita saudade de ouvi-la falar e vibrar ele resolveu voltar. Quando chegou ao chão, o pássaro colocou o seu ouvido e não ouvia nada, apenas o silêncio profundo, e por isso ele caminhava, caminhava, tentando ouvir a mãe Terra falar, tentando sentir a sua vibração e mesmo assim não conseguiu.
Então ele resolveu voar e procurar um pássaro bem mais velho para pedir uma orientação do que poderia ter acontecido e o pássaro mais velho, sábio como é, lhe respondeu: meu precioso filho, você não consegue ouvir a vibração da mãe Terra porque ela está sendo asfixiada pela mão do homem! o homem com seu calçamento está tirando o oxigênio da nossa querida mãe Terra... mas um dia, meu filho, a nossa mãe Terra vai lutar para respirar e ela vai puxar dentro do seu pulmão toda sua força, causando um grande terremoto, abrindo várias crateras. E lhe digo que ainda haverá de ter pessoas para julgá-la e xinga-la, porém não vai ter ninguém para reconhecer o erro de ter colocado uma barreira na sua respiração.
A Terra, meu filho, não nasceu para ser asfaltada. Ela nasceu para respirar, brotar e germinar! Assim como o ser humano não vive quando está com a boca e o nariz fechado, a Terra também não viverá se lhe asfaltar. Essa é a triste realidade dessa modernidade que o homem tem como melhoria.
Para mãe natureza, para mãe Terra, essa é uma pobreza! pobreza espiritual, pobreza ancestral, cultural, pobreza de sabedoria de viver um pouco mais, pobreza de quem não sabe o que faz. Essa é a realidade de quem diz que sabe muito e nada sabe.
O ser humano, meu filho, é muito inteligente, mas não usa a sua inteligência para o seu bem, para o seu fortalecimento... A inteligência vem para destruir a vida na Terra, essa é a fé do homem, meu filho, querer ser mais do que o seu criador! Mas se esquecem que jamais em toda a história ninguém substituirá quem tanta criação construiu e que tanta criação construirá.
Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros e assim vamos seguindo no nosso desespero, o desespero daquele que quer lutar pelo bem, mas não tem a força que muita gente tem, pois o ser humano está tão cego que vê apenas os seus próprios interesses e não enxerga o que é preciso.
Fico triste, pois não sei qual o destino dos próximos passarinhos, não sei se nascerão com asas para voar ou se vão nascer como galinhas e se conformarem de não poder voar mais alto.
- Idiane Crudzá -
Mulher indígena do povo Kariri-Xocó, originário de Alagoas.
Ela é a guardiã da tradição do povo Kariri-Xocó.