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Curtinhas vol.7 nº.2 (2022)
ISSN 2764-0280

Um dia de cada vez!


-Miau, miau, miau...

Chovia forte naquela noite e aquele gatinho miava gemendo de frio. Ele tentava se aquecer em meio a algumas caixas de papelão que o Tião, morador de rua, organizava para dormir.

- Para com esse mio, gato chato! Resmungava Tião sempre atento aos movimentos noturnos, afinal de contas ‘à noite todos os gatos são pardos’ e viver tendo como teto as estrelas, deixa as pessoas frias, sem paciência, com a urgência da fome.

- Oh Tião, dá um jeito nesse gato! Eu quero dormir, pedia Dalva, a mulher que com ele dividia aquele canto da esquina.

- Oh mulher, enche o saco não! Você está com sono e eu também, o que é que você quer que eu faça com esse enfastiado? Já deixei ele n´outra freguesia, mas ele volta para cá.  Oh gato, para com esse choramingado! 

Aquele ‘chove não molha’ não durou muito, foi o tempo da cachaça fazer efeito e os dois dispararam num roncar... E a chuva continuava... 

Jade a cadela que os acompanhava tinha guarnecido seus filhotinhos, três ao todo, com um leite quentinho, saído das tetas ainda há pouco. Bonita era a Jade. Amarela, com pelos esvoaçantes, a despeito de sujos e uma elegância de tirar o fôlego de qualquer um, era assim que Jade era vista pelos cães de rua. Ela parecia uma boa mãe. Ensinou aos filhotes que à noite não poderiam fazer barulho, porém, tinham que que se manterem alertas, assim justificariam as migalhas que Dalva e Tião lhes ofereciam, restos das sobras que eles comiam, no decorrer do dia. Era uma vida bandida, estafante, contudo livre e desafiante!

Jade também estava incomodada com aquele chororó todo, decidiu convidar o gatinho para arranjar-se sob seu pelo junto dos seus filhotes. Antes, porém, conversou com as crianças e explicou-lhes a importância do compartilhamento naquele momento de dificuldade.

- Vem para cá! Disse Jade.

- com medo, respondeu o gatinho.

- Medo de quê?!

- De tudo!

- Onde está sua mãe? 

- Não sei, dormi e quando acordei já estava com o Tião e a Dalva. 

- Vem para cá! Se quiser tem leite quentinho para você! Pode vir, não tenha medo. As crianças vão dividir o cantinho com você. Depois, ao amanhecer você verá o que fazer, mas por enquanto, a chuva está muito forte, você vai se resfriar.

Sem saída, o gatinho foi se arrastando, tremendo de frio, ao encontro de Jade e seus pimpolhos. Mais calmo, tomou o leitinho e conseguiu dormir.

- Dorme gatinho, dorme! Amanhã será um novo dia com outros desafios! Era o acalento de Jade para seus filhotes de 'sangue e de coração'.


Patiluc